O estudo do Banco Mundial mostra o que sabemos. O Piauí dispõe de maior quantidade de recursos naturais do que boa parte dos Estados do Norte e Nordeste do Brasil. Isto mesmo; o Estado tem terras, água, minérios, bons índices pluviométricos, variedade ecológica, patrimônio arqueológico, o Delta, a Serra da Capivara, etc. Em contraponto à dádiva da natureza, a fria realidade dos indicadores econômicos e sociais mostra que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Estado é o menor do Brasil. Sendo este indicador nacional, em 2008, R$ 15.989,75 e o do Piauí R$ R$ 5.373,00. Diante deste quadro, devemos analisar idéias e projetos que prometem a superação do atraso, como é o caso da proposta de divisão do Piauí.
Qual a matriz do desenvolvimento? Não existe uma única resposta. Mas é perfeitamente admissível afirmar que o desenvolvimento pode resultar da combinação de fatores como trabalho, capital, tecnologia, recursos naturais e acesso a mercados. Não há, pois, milagres; o desenvolvimento em qualquer língua tem como principal fator o investimento, ou seja a parte da riqueza gerada que não é consumida e sim destinada à produção de mais riqueza. Os estudos mostram que a economia que investe 30% do PIB consegue crescer cerca de 8% ao ano.
É este o desafio do Piauí: aumentar o investimento para crescer mais rápido, durante 20 anos, para acompanhar o Brasil. Precisamos de um norte, depois de projetos e de prioridades. Como não se trata de crescer simplesmente, mas principalmente de melhorar a qualidade de vida das pessoas e ainda preservar os recursos naturais, a meta focal de atingir IDH superior a 0,800 expressa melhor a natureza de um processo que não pode ser apenas econômico, mas que tem neste seu principal desafio, pois o IDH-renda é justamente o índice em que o Piauí tem pior desempenho (0,608 em 2005 contra 0,703 do IDH geral).
O caminho da superação do atraso é longo e cheio de armadilhas, pois o Piauí tradicionalmente tem tido pouca capacidade de definição de prioridades. Bons exemplos disto são os recursos desperdiçados na construção do Albertão e do chamado metrô de Teresina. Grave também é o excessivo gasto com pessoal, cerca de 65% da Receita, que reduz drasticamente a capacidade de investimento com recursos próprios, dificultando até o desembolso das contrapartidas aos investimentos por meio de convênios federais. Trata-se de questão estrutural; uma herança que garroteia o desenvolvimento. Em 2002, conforme o Balanço Geral do Estado, o Piauí investiu apenas 5,85% de sua RCL. Com esforço, o governo Wellington Dias conseguiu aumentar gradativamente o investimento até chegar a 19,1% da RCL em 2009. Todavia, para crescer mais rápido e acompanhar o Brasil, o Piauí precisaria investir pelo menos 35% da RCL e assim criar condições para a iniciativa privada também alavancar seus investimentos de modo a chegarmos a investir 30% do PIB.
Em que medida a criação de um novo Estado ajudaria o Piauí a aumentar o investimento em educação, infra-estrutura e no aumento da produção econômica? A conseqüência imediata da criação de um novo Estado é a estruturação de novo aparelho político-administrativo, ou seja, de imediato a máquina estatal seria multiplicada em duas. A mesma economia, que já sofre para sustentar uma máquina pública pesada e ineficiente teria que sustentar mais uma. No caso do Gurguéia, uma população de cerca de 650.000 habitantes teria que sustentar todo o aparelhamento e o custeio da nova burocracia estatal. Este não é, definitivamente, o caminho do desenvolvimento.
Merlong Solano Nogueira
Professor da UFPI, Dep Estadual
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