O diagnóstico do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de que o PT está desde 2016 no “Z-4 das eleições municipais” — uma expressão que remete à zona de rebaixamento no futebol — reflete uma avaliação compartilhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo aliados no Planalto. Essa afirmação foi rebatida pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann, sinalizando um potencial conflito interno sobre a sucessão do partido no próximo ano.
Auxiliares do presidente destacam que Lula não vê um cenário de terra arrasada, mas reconhece as dificuldades enfrentadas pelo PT, especialmente com o avanço da extrema direita e a decisão da legenda de abrir mão de candidaturas em capitais importantes para apoiar candidatos de partidos aliados, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Lula também tem comentado que acredita que as eleições municipais não influenciam diretamente o cenário de 2026.
No entanto, aliados admitem que a expressão "Z-4" utilizada por Padilha foi “infeliz”, principalmente por ter sido dita no dia da reunião da Executiva do PT, em um momento de tensão entre os integrantes do partido. Alguns afirmam que, se o próprio presidente tivesse feito a comparação, a repercussão teria sido diferente.
Disputas internas
O desentendimento entre Padilha e Gleisi também reflete as discussões sobre a sucessão na presidência do PT. Padilha apoia a candidatura do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para chefiar o partido a partir de 2025, uma posição respaldada por Lula, que vê Edinho como o perfil ideal para liderar nas eleições de 2026. Embora não se oponha publicamente a Edinho, Gleisi defende que a candidatura de um nome do Nordeste, onde a legenda tem maior densidade eleitoral, seja priorizada. O líder do governo na Câmara, José Guimarães, é um dos nomes mais citados nesse contexto.
Aliados de Gleisi negam que exista uma disputa pessoal entre ela e Padilha ou que a deputada busque se fortalecer para um cargo no governo, afirmando que ela deseja promover uma transição unificada no partido. Durante a reunião da Executiva, mais de 30 pessoas puderam expressar suas opiniões sobre as eleições, e Padilha foi alvo de críticas, especialmente sobre a falta de apoio do governo ao PT e a percepção de que a legenda está sendo excluída das discussões estratégicas.
A expressão “Z-4” foi usada por Padilha em uma conversa com jornalistas após uma reunião com Lula para avaliar o cenário político. Ele destacou que, apesar de avanços, o PT ainda não conseguiu sair da situação de rebaixamento nas eleições municipais.
A fala de Padilha, ao isentar o Planalto de responsabilidades pelo desempenho do partido, provocou uma reação de Gleisi, que ressaltou a necessidade de que ele se concentre nas articulações políticas sob sua responsabilidade, que contribuíram para esses resultados. Ela enfatizou, nas redes sociais, a importância do respeito ao partido que lutou pela liberdade de Lula. A resposta de Gleisi foi interpretada pelo Planalto como uma defesa legítima do partido, enquanto membros da Executiva expressaram, em off, sua insatisfação com os comentários de Padilha em um momento delicado para a legenda.
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