Importante nome na condução da saúde financeira e no planejamento das eleições petistas em 2024 junto à presidenta Gleisi Hoffmann, Gleide é uma das responsáveis pela estratégia de antecipar o debate eleitoral no PT, desde a Conferência Eleitoral Nacional, realizada em Brasília no final do ano passado, ao contínuo trabalho da Escola de Formação do PT, ambos em parceria com a Fundação Perseu Abramo. A estratégia deu certo, garante a Secretária.
“Começamos o debate em setembro do ano passado, e em novembro já havíamos acertado várias candidaturas, ou seja, antecipamos o debate interno eleitoral do PT”, explica Gleide. “Fizemos com que o partido começasse a definir com muita antecedência sua chapa de vereadores e vereadoras e suas candidaturas. Pudemos, então, testar essas candidaturas. Acho que o resultado foi muito bom, vamos disputar em torno de 13 capitais. Existem capitais onde estamos disputando com chances reais”. Os dados são referentes ao fechamento desta edição (13/8) e podem ser atualizados em nosso site.
Aliança contra o bolsonarismo
No cenário nacional, o Partido dos Trabalhadores está otimista com o que vem pela frente, ao analisar de forma localizada cada quadro que apresenta reais chances de vitória. O saldo positivo vem depois de muita luta após um período de verdadeira caçada ao PT, processo de desgaste que afastou até mesmo filiados da disputa eleitoral e do trabalho de base. Um dos grandes objetivos do trabalho realizado na formação, inclusive é voltado ao trabalho de base, como também mostramos nesta edição, destacando o encerramento de um curso de formação da FPA.
Segundo Gleide, a tática para vencer esse obstáculo foi mudar a estratégia adotada em 2020, de pulverização de candidaturas petistas a todo custo. “Acertamos na tática quando decidimos que a estratégia para 24 não era lançar candidatos em todos os lugares como foi em 2020”, diz. “Em 2020, saímos de um processo de caçada ao PT, de um enorme sofrimento, golpe, prisão do presidente, perseguição total”.
Sobre as cidades onde o PT renunciou a candidaturas próprias, a secretária explica que, justamente, é este o objetivo: derrotar o fascismo. “Quando optamos por não ter candidato em São Paulo, no Rio, em Recife, é porque entendemos que o mais importante é derrotar o bolsonarismo, é derrotar o fascismo”, explica. “Esse desprendimento também foi muito importante para o PT, muito importante para nós”. O bolsonarismo, aponta, deve ser derrotado. É a grande missão destas eleições.
Disputa consciente
Depois de quase um ano de discussões internas, cursos de formação para candidatos e militância, pesquisas construídas em grupos de altos estudo para subsidiar planos de governo em todo o país, o Partido dos Trabalhadores entra em campo nas Eleições Municipais consciente dos desafios que enfrentará, mas também consciente de que está preparado para enfrentar e pautar o debate – sem se deixar pautar pela extrema-direita.
“Estamos entrando nesta eleição com um raio-x bem honesto. Acho que a direção nacional do PT sabe onde está disputando, sabe onde teremos possibilidade real de vitória, vitória eleitoral, e onde teremos vitória política, que também é muito importante”, adiantou Gleide na entrevista que integra esta edição. “Por exemplo, no meu estado, Minas Gerais, com 853 municípios teremos, no máximo, 250 candidaturas. É por falta de candidato? Não, não é. Em Minas, o PT está organizado em mais de 600 municípios. É porque houve essa compreensão”.
Contra a mentira, a verdade: o legado de Lula
Um papel importante do Partido dos Trabalhadores nestas eleições é essencialmente pedagógico: levar à população o debate que dialoga com seu dia a dia, que faça parte de sua vida, sem se distanciar com temas ideológicos identificado à disputa política, mas sim à disputa social, da transformação possível através do processo eleitoral – o que faz mais sentido em grandes centros, como São Paulo, por exemplo, e pouco se aproxima da política de cidades do interior.
Para Gleide, a tática de adotar a derrota do fascismo com objetivo é correta, pois caminha nesta direção, a de ignorar a disputa da pauta de costumes e enfrentar os problemas da realidade do povo brasileiro e manter a disputa nos grandes centros, onde as eleições se nacionalizam.
“Acredito que a grande maioria das eleições nas capitais será bastante nacionalizada. Isso é diferente das eleições em municípios menores, onde as pessoas discutem mais o território e se concentram em temas como obras, saúde e educação. Nas capitais, a abordagem é diferente. Muitas eleições municipais serão guiadas pela pauta de costumes que eles tentarão trazer para o debate, além das pautas nacionais”, explica.
“Nossa eleição cumpre um papel pedagógico, de mostrar para as pessoas como a vida melhorou: o aumento real do salário-mínimo, o crescimento do emprego formal, os programas sociais, quantas pessoas eram atendidas e quantas são hoje”, defende.
PT está otimista com eleições nas capitais
“Acredito que o partido tem uma excelente perspectiva para 2024”, afirma o senador Humberto Costa, coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT. Costa destacou a estratégia de alianças com federações e partidos historicamente próximos, nomeando PCdoB, PSB, PDT, PV, PSOL, REDE; ele também aponta como positivo o número de mais de mil candidatos às prefeituras em todo o país, além de uma quantidade expressiva de candidatos a vereadores.
Para Humberto Costa “a possibilidade é concreta do partido fazer um resultado mais expressivo do que em 2020”, tendo em vista a ampliação no número de prefeitos que, a partir de mudanças desde as últimas eleições, já ocupam os postos e tentarão a reeleição. Neste sentido, em 2020, foram eleitos 165 e agora o partido conta com 280 prefeitos em todo o país.
A reeleição, inclusive, costuma ser um fator a ser considerado na equação, em especial nas capitais. Nas duas últimas disputas, quase 80% dos gestores de capitais foram reconduzidos ao cargo. Neste ano, 20 dos 26 prefeitos disputam um novo mandato, 11 deles estão em vantagem nas pesquisas.
Para 2024, um elemento conhecido do cenário nacional, a polarização com o bolsonarismo, segue como um dos principais no jogo político municipal. De acordo com Costa, as eleições deste ano não estão descoladas do contexto nacional e, a partir disso, a estratégia das alianças e o fato do partido ter que abdicar de candidaturas próprias fazem parte do pacote. O PT coloca como norte a figura de Lula como principal cabo eleitoral.
Destaques
Em Teresina, no Piauí, o deputado estadual
Fábio Novo foi o escolhido para tentar um feito inédito, já que o Partido dos Trabalhadores nunca governou a capital. Empatado tecnicamente com o ex-prefeito Sílvio Mendes (União), em primeiro lugar, a avaliação dele é boa, com tendência de crescimento a partir do apoio do bem avaliado governador Rafael Fonteles (PT) e do popular ex-governador e ministro Wellington Dias (PT).
Na cidade de Porto Alegre, Maria do Rosário segue com um resultado animador, chegando a liderar as pesquisas. A deputada federal disputa com o prefeito Sebastião Melo (MDB), desgastado após as enchentes que atingiram diversos pontos do estado e a capital do Rio Grande do Sul.
São Paulo tem Guilherme Boulos, do PSOL, como cabeça de chapa, e Marta Suplicy, do PT, como vice. O deputado federal é um nome competitivo, ameaçando a reeleição de Ricardo Nunes (MDB), que tenta se vincular a Bolsonaro enquanto padrinho político. De acordo com uma pesquisa recente da FESPSP, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em um eventual segundo turno, a vinculação política de Boulos a Lula reflete em maior apoio e mais votos na comparação com a associação de Nunes com o bolsonarismo.
A disputa em Belo Horizonte segue com Rogério Correia como nome capaz de unificar o campo progressista, porém a deputada federal Duda Salabert (PDT) mantém a candidatura, com convenção marcada para o próximo final de semana. Na capital mineira, há nomes diversificados do campo da direita que disputarão o pleito.