O PT partiu para sua primeira eleição municipal num ato de bravura, num enfrentamento desigual, mas convicto da importância de sua participação para divulgar suas teses, já que a população não acreditava em sua viabilidade eleitoral. De fato não interessava a conquista imediata de leitores, mas divulgar minimamente os ideais o manifesto de fundação que conclamava aos trabalhadores a missão de “construir a democracia pelas próprias mãos e de obter independência política e deixarem de ser massa de manobra para os políticos tradicionais e seus partidos.
Do ponto de vista de estrutura, não contava absolutamente com nenhuma logística, tão pouco existia recursos financeiros para custear as mínimas despesas de material de propaganda. Os candidatos eram pessoas simples do meio do povo, que andavam a pé ou de bicicleta. A propaganda era feita em papel mimeografado ou poucas pichações nas ruas asfaltadas, e em alguns muros e algumas comunidades periféricas.
Às eleições de 1982 apresentou-se como candidato a Prefeito, Inácio Domingos de Andrade, trabalhador rural e vigia e como vice o também trabalhador rural Francisco Silvestre, residente no povoado Tabuleiro. Ambos á época sexagenário, pouco letrados, moradores nas terras pertencentes à Diocese de Parnaíba. Os dois poucos entendiam de política, mas viviam insatisfeitas com o modo como as famílias ricas conduziam os destinos dos parnaibanos. Compreendiam bem que os pobres, trabalhadores rurais e desempregados precisavam participar da vida publica, pois assim seria uma oportunidade de que alguma coisa pudesse mudar. Acostumado a votar na família “Silva” ou seus comandados, agora se rebelavam e procuravam votar em si mesmo. No desenrolar do processo eleitoral, Silvestre foi substituído pela jovem Maria de Lourdes Pimentel.
Aquele gesto era a expressão do que também desejavam os milhares de trabalhadores, intelectuais e estudantes que reunidos no colégio Sion em São Paulo, haviam criado o PT em 1980, tendo como expressão maior o operário e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Inácio Andrade aceitou o desafio de enfrentar nas urnas o Dr. João Tavares da Silva Filho- MDB, irmão do influente político Alberto Tavares Silva, e do médico Francisco de Assis Moraes Sousa-(Mão Santa)- PDS. Além de outros representantes de peso, do poder local.
Seu Inácio, homem de pouco vocabulário político, falava nos comícios ao minguado publico de participantes apenas os jargões da gramática do cotidiano dos petistas: “trabalhador tem que votar em trabalhador” “é preciso eleger um candidato do PT para se ter direito a terra, ao emprego e a moradia”,“ reforma urbana e reforma agrária”. Em geral não apresentava propostas plausíveis de serem realizados, apenas, grandes idealismo e entusiasmo que viria a marcar. a vida petista. Inácio, homem aparentemente rude, marcado pelas durezas do trabalho estafante da roça e dos biscoites sazonais estava tendo pela primeira vez a oportunidade de se sentir “importante” participando como protagonista da política, na terra dos mandatários tradicionais da política piauiense desde Simplício Dias da Silva.
A chapa
A chapa petista encabeçada por Inácio Andrade era composta de nove candidatos a vereadores, um número suficiente para a composição numérica do diretório municipal, todos engajados em alguma atividade sócia cultural considerada revolucionária para a época, que era o movimento estudantil, as comunidades de bases (CEBS), grupos de jovens do meio popular, pastorais, musicistas, carnavalescos, etc.. Eram jovens com ideais e rebeldia, próprio da juventude. Os principais membros que compunham a chapa de vereadores eram: Roberto Barros, Raimundo Madalena, Reginaldo Costa e Raimundo Coutinho. Estes eram os que tinham maior envolvimento nos incipientes movimentos sociais. Naquela época tinha a recomendação partidária para que a pessoa mais destacada na atuação social pudesse fazer parte da chapa eleitoral. Reginaldo Costa, intelectual, diretor do Movimento Cultural Inovação ; Raimundo Madalena, do grupo de jovem Jutep Coutinho era desportista e Roberto Barros, musicista.
Naquele mesmo período ocorria também às eleições estaduais e o candidato a Governador e o Vice eram também trabalhadores sindicalista do meio rural (José Ribamar Santos e Luiz Edwirgens, o que dava ao partido um viés camponês e um discurso voltado para o alcance do campesinato).
A campanha
A campanha se desenvolveu de forma tímida; visita nas casas, divulgação na Praça da Graça, pichações nos muros e asfalto, colagem nos postes com o nome do PT e a estrela vermelha. Nada parecido com a propaganda de massa dos partidos tradicionais do município.
O grande ato dessa campanha foi um comício de encerramento que ocorreu no Bairro São José, na Praça José Narciso. Um único carro de som alugado era o que podia contar para anunciar o comício. O veiculo percorria os principais bairros da cidade propagando o evento que iria se realizar naquele bairro por conta de que ali morava seu principal líder, que era o também candidata a vereador, Reginaldo Costa. Era anunciado que estariam presente naquele evento, grandes nomes do PT vindo da capital do Estado, como Antonio José Medeiros, e o próprio candidato a governador, Ribamar Santos. No ato que contou com menos de 100 pessoas, ficou marcado pela critica a ditadura militar, denuncia dos problemas de desemprego e miséria sofrida pelos brasileiros, eleições diretas para presidente da republica, constituinte livre e reforma agrária sobre o controle dos trabalhadores, não pagamento da divida externa, contra o FMI. Os discursos eram acalorados, mas a maioria prestava atenção muito mais no entusiasmo da emoção dos candidatos e na coragem dos mesmos em se disporem a participarem da política e fazerem denuncia.
Nesse ato, Inácio Andrade não fez uso da palavra, somente foi apresentado. As palavras lhe faltaram e não teve como organizar as idéias e foi substituído na oratória pelo então candidato a vereador Reginaldo Costa, que era excelente orador.
O resultado
Apurada as eleições a chapa petista apresentou um fraco desempenho eleitoral, como já era esperado. O mais votado foi Reginaldo Costa com 106 votos, em segundo lugar, a Raimundo Madalena, com 16 votos seguido de Roberto Barros com 09 votos. O candidato a prefeito teve 168 votos. Porém estava sacramenta na ideia e na pratica o surgimento da maior novidade política do Brasil e a Parnaiba: o Partido dos Trabalhadores.
Resultado das eleição de 1982 em Parnaíba-Piauí
CANDIDATOS A PREFEITOS:
JOAO SILVA FILHO – MDB 20.242 votos
MAO SANTA – PDS 9.155 votos
INACIO DOMINGOS DE ANDRADE – PREFEITO PT – 168 votos
CANDIDATOS VEREADORES
REGINALDO FERREIRA COSTA --- 106 votos
RAIMUNDO RODRIGUES MADALENA – 16 votos
ROBERTO BARROSO DO NASCIMENTO 11 votos
RAIMUNDO BARROSO COUTINHO -8 votos
MARIA EMILIA RIBEIRO – 7 votos
ANTONIO CARVALHO NETO – 5 votos
GILBERTO DOS SANTOS – 5 votos
EURIDICE MARIA C. DOS SANTOS – 3 votos
JOSE DE RIBAMAR FERNANDES – 2 votos
PEDRO FERREIRA MAGALHAES – 1 votos
*Alvaro Ramos de Oliveira,
Membro fundador do PT-Parnaiba-Piaui*
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